Mercado / Edição 262 - Novembro/2010
por Roberto Rockmann
O mercado de construção civil nunca cresceu tanto quanto agora. Há cinco anos, seu PIB era de R$ 90,2 bilhões. Em 2010, deve chegar a R$ 152 bilhões – um salto de 69%. Com isso, as oportunidades no setor alargam suas fronteiras. As tradicionais atividades de construção e incorporação vão além dos bairros nobres nas capitais. Para dar suporte às obras, ganham destaque serviços como o aluguel de equipamentos. Com a multiplicação de novos imóveis, nascem nichos como o de fornecimento de boxes para que pessoas em mudança guardem provisoriamente seus pertences. Negócios para condomínios, em áreas como infra-estrutura, alimentação e segurança, também conquistam espaço. “Todos os elos da cadeia estão aquecidos, da aquisição de terrenos aos serviços para residências”, diz Hubert Gebara, vice-presidente de Administração Imobiliária e Condomínios do Secovi-SP.
Essa expansão da construção civil parece consistente. Segundo estudo da FGV e da Ernst & Young, irá durar pelo menos mais duas décadas: a estimativa é de um aumento de 66% no número de domicílios entre 2007 e 2030. Significa que haverá uma média de 1,6 milhão de novas residências por ano no Brasil. “As perspectivas são muito positivas para a construção civil”, afirma Cristiane Amaral, sócia da área de Risk Advisory Services da Ernst & Young.
Investir no setor requer algum capital — no mínimo, R$ 70 mil, em um negócio como o da AJ Martani, que fornece medidores individuais de água para edifícios. Mas a expectativa é atingir um bom faturamento. O da AJ Martani, que começou a fabricar medidores em 2000, é atualmente de R$ 6 milhões ao ano. O crescimento, no cenário atual, pode ser bem rápido. A Blindaço, de blindagem residencial, aumentou dez vezes de tamanho em dois anos. O negócio exigiu um investimento de R$ 100 mil em 2007 e hoje fatura R$ 12 milhões ao ano.
Períodos de euforia como o atual trazem muitas possibilidades de negócio, mas não se deve descuidar da administração de riscos. Planejar cada decisão e manter controle sobre o crescimento são atitudes estratégicas. Apesar de existirem cada vez mais nichos, não dá para dispensar um estudo de mercado consistente. A incorporadora paulista Requadra, de Marcos França, constatou por uma pesquisa que havia uma procura não atendida por imóveis residenciais no centro de São Paulo. Então, começou a procurar bons terrenos para edifícios voltados às classes B e C, as mais interessadas na região. Fundada em 1988, hoje fatura anualmente R$ 100 milhões.
A definição correta do público-alvo é uma característica das empresas que estão dando certo na área de construção. A Ingreen Biometrics, de Valinhos, interior de São Paulo, criou um sistema de controle de acesso por reconhecimento de impressão digital ou facial para condomínios residenciais com um custo de instalação de R$ 50 mil. Os sócios descobriram que o negócio só é viável para complexos com mais de 150 moradores. “Percebemos que não adianta bater na porta de condomínios pequenos”, diz Francisco Ventura, 25 anos, que fundou o negócio em dezembro do ano passado e prevê faturar R$ 300 mil neste primeiro ano de atividade.
Quando o serviço é pouco conhecido do público, o marketing e a publicidade tornam-se relevantes. É o caso da Minidocks, que oferece boxes para os clientes guardarem objetos quando estão mudando ou reformando a casa. “Nos últimos quatro anos, investimos 5% da nossa receita em publicidade no Google”, diz o sócio João Geloramo, 65 anos, que prevê um faturamento de R$ 1,6 milhão em 2010.
Como as taxas de crescimento têm sido muito altas no setor de construção, as empresas estão investindo mais na gestão e profissionalização. Carlos Barbosa, 33 anos, da Blindaço, contratou três consultores para as áreas financeira, industrial e operacional e mantém reuniões semanais com eles. “Assim, tenho outras vozes para escutar”, diz. França, da Requadra, consegue ter uma taxa de inadimplência inferior a 2% com um sistema apurado de checagem da capacidade de pagamento dos clientes. “Acompanhar o fluxo de caixa para que não haja problemas futuros é fundamental”, diz.
Além de aperfeiçoar a gestão e os processos, o empreendedor precisa sempre manter a qualidade dos produtos e serviços. “Em momentos de forte demanda, tem-se a impressão de que o que for produzido será vendido”, afirma o consultor empresarial Sergio Nardi. “Mas não se pode nunca ter desleixo com a qualidade do produto. Só ela sustenta a marca no tempo.”
SEGURANÇA | INGREEN BIOMETRICS Ano de fundação: 2009